Raras foram as partidas que assisti da Copa, pois, não sou fanático por futebol, apesar de brasileiro, principalmente, quando lembro que há um coro que ressoa livremente: “Deus é brasileiro”, “sou brasileiro e não desisto nunca”, “Brasil o país do futebol” e etc. Pois, bem, partindo dessa ideia massificada pela mídia conservadora de que somos o país-símbolo da beleza, da festa, da alegria e da democracia racial; quero voltar um pouco no tempo e relembrar o teatrólogo, dramaturgo e escritor Nelson Rodrigues (1912-1980) quando deu uma resposta aos inimigos internos do Brasil e, que engrossavam o coro em favor das potencias mundiais; como sempre tem sido ao longo de nossa ‘encantada’ história enquanto nação-colônia sob o ponto de vista da elite branca que colocava – e continua a colocar – o Brasil numa condição subalterna e de subserviência. Nelson Rodrigues foi genial ao afirmar que o Brasil precisava se desvencilhar do “complexo de vira-lata”. Aquele magistral texto constituiu-se numa defesa intransigente do espírito de brasilidade. Brasilidade com otimismo e fé no crescimento e expansão deste gigante ‘adormecido’ por séculos e, que, recentemente, fora sacudido por uma nova versão do desenvolvimento político e social. É impossível pensar o Brasil hoje sob a perspectiva do conservadorismo embranquecido. A boa política nos indica que a caminhada já iniciada tem dado resultados significativos para o conjunto da brasilidade excluída. Aquela que tem sido constantemente criticada pela ‘elite branca’ como geradora de obstáculos para o crescimento e desenvolvimento de nossa Pátria. Isto é até motivo de pilhéria.
Mas deixemos de lado, o caráter político para analisarmos o jogo entre a seleção do Uruguai e a Inglaterra. Um jogo fantástico desde o começo. Um jogo suicida para ambas as seleções. Porém, o lance que mais me chamou a atenção foi aquele em que o lateral esquerdo do Uruguai ao ser driblado pelo ponteiro direito da Inglaterra sofreu o choque direto na lateral de sua cabeça pelo joelho do jogador da Inglaterra. Com o impacto perdeu o sentido por alguns segundos/minutos. Ao ser medicado – recompondo-se -, a equipe médica sugeriu sua imediata substituição e, num gesto de amor visceral, determinação apaixonante e patriotismo exasperado negou-se a sair do campo. Tal gesto causou-me forte impressão. Nele procurei vislumbrar a coragem – que, na atualidade, encontra-se tão escassa -, a sobriedade e o amor intenso espraiado por todos os poros. Foi de fato, um gesto imponente, garboso e decisivo, pois, contaminou o restante da equipe e de todos os torcedores azuis celestes presentes no estádio. Os uruguaios mostraram que não possuem ‘complexo de vira-lata’, ao contrário, demonstrou toda sua força e gana, menos mediocridade e inferioridade.
É neste espectro que se consegue testificar verdadeiramente o ato caracterizado pelo sentido da luta e a luta pelo sentido da vitória. E em ambos os casos é fundamental frisar: o patriotismo se constituiu no principal elo da batalha que exigiu sacrifícios individuais e coletivos. Parabéns aos heróis uruguaios por superarem a supremacia dos “intocáveis”.